2009/01/27

Lógica (algumas falácias) e cotidiano.


Num de meus escritos, aqui no blog, eu me referi a um tipo de argumento denominado Ad hominem, pensei ser importante compartilhar esse tipo de informação com todos.
Trata-se de argumentos denominados de falácias (argumentos falsos que servem unicamente para “ganhar” uma disputa, tirar proveito, enganar).
A lógica é muito importante, pois ela contribui para analisar os argumentos que fazemos e/ou ouvimos. Ela divide-se em algumas partes durante a história como pro exemplo: Lógica Clássica, Lógica Contemporânea, Lógica Matemática e etc. Dedicar tempo para estudá-la é importante, mas no dia-a-dia usamos muito da lógica por bom senso. Assim, gostaria de compartilhar algumas falácias que, com atenção, nos ajudam no cotidiano, nos relacionamentos.
Bom, nosso objetivo é a razão, argumentos que possuem validade racional. A falácia usa a razão, só que sem validade, até porque não busca a verdade e sim a vantagem.
Vamos lá!
1- Falácia Ad hominem (contra a pessoa): age procurando desqualificar a pessoa atingi-la pessoalmente, sua vida particular, sua singularidade. Exemplos:
* Jesus estava pregando e alguns disseram: “Pode vir algo que preste de Nazaré?!”
* Não dêem ouvidos aquela pessoa, pois ela é “gay”.
* Os jovens não tem nada a ensinar aos mais velhos, pois são novos ainda.
* Muito interessante o que você está falando, mas me diga qual a sua escolaridade? Só isso?! Então não me interessa. Recolha-se em sua insignificância.
* “Fulano de tal” falando de fé?! Mas ele bebe e fuma, logo que experiência de deus ele tem?!
* Você falando de família?! Você não está divorciado?! Ah, vai procurar a sua turma, pó.
Bom, podemos citar uma infinidade de exemplos, mas vamos analisar os supra:
* O fato de Jesus ser de Nazaré não invalida suas palavras.
* A orientação sexual de cada um é particular, o conteúdo de suas declarações que importam.
* Há muitas coisas que os jovens podem ensinar aos velhos e vice-versa, defere-se, claro, quanto à matéria em questão para a idade ser levada em conta e não condicional.
* Há muitas pessoas que são intelectuais orgânicos e o fato de terem essa ou aquela escolaridade só por título está a serviço da manutenção de status, de elitismo.
* Deus não entra em relação com quem fuma e bebe? No cristianismo pelo menos eu sei que não é bem assim.
* O fato do divórcio na vida das pessoas, não quer dizer que família não seja um valor, o fim dos relacionamentos são inúmero e cada um tem seus motivos.
2- Falácia Ad baculum (apelo à força, ameaça). Exemplos:
* Fala direito comigo, se não te meto a mão na cara;
* O que você viu ou ouviu, guarda com você. Não tem medo de morrer, não?!
* Menino, não faça isso ou você vai apanhar!
* Ouse sair para o futebol, pois quando voltar encontrará suas coisas quebradas.
Analisando:
* Falar direito com os outros é educação, como estou sendo polido com você, pro favor seja comigo, se não é melhor conversarmos depois, quando estiver mais calmo.
* Muitas vezes o mal da injustiça é pio do que a morte.
* Menino, as razões para você não fazer isso são essas, então combinaremos o seguinte: na transgressão as conseqüências também deverão ser assumidas.
* Quebrar as coisas será um grande prejuízo (financeiro, emocional, relacional etc.) e também não é um argumento válido para evitar a saída para o futebol.
3- Falácia Ad auctoritatem (apelo à autoridade). Exemplos:
* Seu guarda, apesar do meu carro estar estacionado errado, o senhor não pode me multar, pois sou o filho de fulano (o pai é uma personalidade importante na cidade) e vai ficar ruim para o senhor.
* Mas senhor policial o senhor não pode fazer isso, eu tenho direitos! — Não interessa, só por causa disso agora eu te prendo por desacato.
* Baixa a bola cara, você sabe com quem você está falando?
* Ah, não levarei em consideração o que você está falando, pois li ou ouvi “Fulano de tal” (alguém notoriedade e relevância) dizer o contrário.
Analisando:
* Não interessa de quem seja o pai, todos são iguais perante a lei (ou pelo menos deveria ser assim). Errou, pague.
* A segurança dos cidadãos é um dever moral e legal, exigir os próprios direitos não é motivo para ser preso.
* O famoso “você sabe com quem está falando” remete ao “poder” que as elites acham que podem estar acima do bem e do mal. Pura ilusão!
* Ninguém é dono da verdade, temos parte dela. Nem tudo se aplica a tudo. De vez em quando há a possibilidade de se pensar alternativas. Pensar e fazer são duas coisas que podem ser diferentes. Apesar de uma poder motivar a outra. Lembro de Galileu quando penso esse tipo de falácia.
Aí estão algumas que me parecem ser mais detectáveis no nosso cotidiano, claro que há mais, muito mais tipos de falácias. A lógica não estuda somente as falácias, há muito mais do que isso.
Abaixo dou algumas referências para experimentar e/ou estudar lógica, pois nós (eu estou incluído, pois tenho lá minhas dificuldades com a lógica) somos sempre aprendizes:
- HAIGHT, Mary. A serpente e a raposa: uma introdução à lógica. São Paulo: Ed. Loyola, 2003.
- ALENCAR FILHO, Edgard de. Iniciação à lógica matemática. São Paulo: Ed. Livraria Nobel S.A., 1967.
- Livros de Introdução à Filosofia comumente traz alguns capítulos que apresentam um pouco de lógica, como: Convite à Filosofia da Marilena Chauí; Filosofando; Curso de Filosofia do Jolivet e etc.
- Nas bancas de jornal encontramos revistinhas com desafios e/ou problemas lógicos (mais no plano da lógica matemática) que são muito interessantes e agradáveis.
- Na internet encontramos muitas coisas sobre lógica. Para familiarizarmos um pouco com sua história e vertentes entre no site: http://pt.wikipedia.org/wiki/Lógica
Um abraço e até mais.

2 comentários:

Unknown disse...

O que tu quer dizer com "a falácia usa a razão"? Parece querer dizer que a pessoa que connstrói o argumento usa a razão?!
As falácias são problemáticas exatamente porque enquanto argumento elas não dão evidências racionais para a conclusão que quer afirmar. Ao contrário, apela para outros aspectos não racionais: psicológico, lingúítico, etc.

Prof. Diác. Kauê de Souza Martins disse...

Caro companheiro, Michel, quando falo que "a falácia usa a razão" estou sendo franco em admitir que usamos a razão para construção da falácia enquanto maquinação e não a matéria usapa pela própria maquinação (que é racional, usada de modo antiético) e não a matéria usada na construção da falácia (vide: psicológico, linguístico, etc), pode observar pela própria frase inteira e descubrir pelo contexto e não apenas pelo fragmento que você destacou, mas o trecho completo é: "A falácia usa a razão, só que sem validade, até porque não busca a verdade e sim a vantagem".
Agradeço sua observação, pois ajuda a estabelecer debates interessantes para o enriquecimento da filosofia. Obrigado, amigo.