2009/07/12

Da agência de notícias ZENIT: “Caritas in veritate” faz da questão social uma questão antropológica.

Caritas in veritate” faz da questão social uma questão antropológica

Apresentação da encíclica na Espanha
MADRI, quinta-feira, 9 de julho de 2009 (ZENIT.org):

A nova encíclica do Papa não pode ser lida a partir de uma ótica econômica ou política, pois se cairia no reducionismo; deve ser lida a partir de uma ótica antropológica e teológica – indicou a professora da Universidade Pontifícia de Salamanca em Madri, María Teresa Comte Grau, durante a apresentação da encíclica realizada nesta quarta-feira na sede da Conferência Episcopal Espanhola, em Madri.
“A questão social se converteu em uma questão antropológica, o que nos convida a perguntar-nos pelo homem, a superar o reducionismo psicológico para redescobrir a dimensão espiritual do ser humano”, declarou.
Para Compte, “ a proposta da encíclica é um humanismo cristão cujo centro é Deus”.
Neste humanismo proposto por Bento XVI, “o homem reconhece e aceita que, para desenvolver-se como tal, precisa de algumas condições sociais que lhe permitam crescer em toda a sua integridade, em todas as suas dimensões”.
Também falou deste tema o porta-voz da CEE, Dom Juan Antonio Martínez Camino, bispo auxiliar de Madri, na coletiva de imprensa de apresentação.
Para o prelado, na proposta que o Papa faz, “a questão fundamental é se o homem é um produto de si mesmo ou se está em dependência de Deus”.
“Se o ser humano fosse um produto de si mesmo, o progresso consistiria em fazer coisas, na vitória da técnica”, disse.
E acrescentou: “Mas se depende de Deus, o progresso é uma vocação; o ser humano está chamado a ser mais, ao progresso completo, porque escutou o chamado de Deus”.
“Daí radica o verdadeiro humanismo – sintetizou. Sem vida eterna, que é a vocação do ser humano, não há progresso.”
Dom Martínez Camino se referiu também à lei moral natural da qual o Papa fala em sua encíclica. Advertiu que não deve ser confundida com as leis da natureza, com as leis físicas, mas que “responde à gramática da natureza humana na que se expressa a linguagem divina”.
“Aí está a base da dignidade do homem – resumiu. Por isso, os direitos do homem não podem se fundamentar somente nas deliberações de uma assembleia de cidadãos.”
O prelado também recolheu a indicação do Santo Padre segundo a qual “não haverá respeito ao meio ambiente se a ecologia humana não for cultivada na família e na escola, de acordo com a verdadeira natureza do ser humano”..
Globalização
Marcando a encíclica social na história da doutrina social da Igreja, Dom Martínez Camino afirmou que Caritas in veritate é uma “homenagem a Paulo VI, autor da Populorum Progressio, que deve ser considerada como a Rerum novarum de nosso tempo”.
O prelado afirmou que “o diagnóstico de Paulo VI continua sendo válido”, e Bento XVI “o amplia à nova situação mundial, de maior proximidade e unidade”.
“Tudo está mais perto; fala-se de deslocalização dos mercados, de globalização, mas a maior relação entre todos os homens no mundo não é sempre igual a uma maior proximidade na solidariedade – explicou. Este é o diagnóstico e o desafio.”
O prelado destacou que, segundo explica Bento XVI no texto, “a nova conjuntura global oferece novas possibilidades que não foram aproveitadas até agora”.
“A encíclica se propõe como uma ajuda para uma necessária e exigente reformulação das estruturas econômicas e sociais no mundo, que está pendente”, assegurou.
Dom Martínez Camino assinalou como o Papa aponta ao relativismo físico e moral como base das contradições do sistema atual; contradições que fazem que, por um lado, sejam reivindicados supostos direitos e se pretenda que as instituições públicas os promovam, enquanto há direitos fundamentais, como o direito a comer ou ao trabalho, que são vulneráveis em grande parte da humanidade, denunciou.
Como já apontou Paulo VI e confirma agora Bento XVI, disse o bispo espanhol, “a causa mais fundamental da injustiça não é de ordem material; a mais radical é a falta de fraternidade entre os homens”.
A razão por si só é capaz de estabelecer uma convivência entre os homens, mas a irmandade unicamente nasce de uma vocação transcendente de Deus Pai, o primeiro que nos ensinou o que é a caridade fraterna, disse o prelado, remetendo-se à encíclica.
“Sem fraternidade não há desenvolvimento humano – disse em outro momento. Excluindo Deus das relações humanas, não se pode entender o ser humano nem o desenvolvimento.”
Neste sentido, a professora Compte indicou que a relação de fraternidade que une os homens “é a razão do compromisso social e público do cristianismo”.
E destacou uma afirmação da encíclica: “A caridade é a via mestra da doutrina social da Igreja”.
Assinalou que “esta verdade tem uma dimensão prática que se concretiza em dois princípios que orientam a doutrina social da Igreja: a justiça e o bem comum”.
A “justiça entendida não só como dar ao homem o que merece em função do que dá, mas dar-lhe o que lhe é devido pelo simples fato se sê-lo”.
E o bem comum entendido como o resultado de um desenvolvimento livre, sem travas, do homem, de todos os homens em condições ambientais, materiais e espirituais que lhes permitam chegar a ser o que estão chamados a ser, explicou.
Para a professora, o Papa escreveu a encíclica para responder a um homem que vive em uma sociedade cada vez mais complexa e tecnificada, fruto da globalização e da acentuação da interdependência.

Nenhum comentário: